sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Desgosto do café brasileiro



Chocolate e café no Brasil: gosto ou desgosto?
Publicado por Glauco

[Post atua­li­zado. 10/abr/2010]

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choco­late de terceira (quinta?) cate­go­ria. E caros! (abuso de fabri­can­tes + impos­tos amar­gos que o governo enfia em nosso cora­ção como uma faca)

No Brasil, choco­late está cada vez pior. Saudade da minha infân­cia… Até Bis,Sonho de Valsa e Batom eram bons!

Sabe quando você comerá choco­late real­mente de primeira cate­go­ria? Quandoviajar para o exte­rior. Aproveite! Compre em qual­quer lugar! Chocolates bara­tos, inclu­sive! Abuse! Traga vários para o Brasil!

Mesmo quando se trata de produto mais caro, mais “sele­ci­o­nado”, o brasi­leiro não tem mais acesso ao booo­o­oom choco­late que se vê lá fora. Hoje, o mais próximo, aqui, é a linha Kopenhagen — prin­ci­pal­mente o choco­late chamado Língua de Gato. A Cacau Show também oferece uns bons produ­tos. Ah, comprar choco­late impor­tado? Estranhamente, não é igual. Por que será?…

Você come algum choco­late vendido no Brasil… e gosta? Sinto muito: você pensaque conhece choco­late. Dependendo de sua idade, já comeu choco­late gostoso por aqui, muitos anos atrás. Mas pode ter esque­cido o verda­deiro sabor,acostumando-se com o sabor atual. É como a pessoa com boa visão que fica míope no decor­rer de alguns anos: como o declí­nio da visão é gradual, a pessoa sempre pensa que a maneira como enxerga é correta; um dia, quando coloca óculos ou lentes de contato, é um choque, a pessoa redes­co­bre o mundo, percebe quanto enxer­gava mal.

A situ­a­ção é irri­tante. Em países desen­vol­vi­dos, o choco­late barato é gostoso. Chega a ser ofensa compará-lo com choco­la­tes vendi­dos no Brasil. Na Holanda, por exem­plo, comprei choco­late COMUM em super­mer­cado, produto de apenas $1,5 euro, e até hoje o sabor marca no meu pala­dar. Trouxe vários para casa. Um choco­late bara­ti­nho em Portugal também humi­lhou o choco­late vendido no Brasil. Um produto da Nestlé (esqueci o nome, me descul­pem) muito vendido no Brasil, meio caro e sem graça, é vendido também na França; comprei em Paris… e nem pude acre­di­tar na enorme dife­rença. O mesmo produto, mas com capri­chos dife­ren­tes na produ­ção, no sabor.

Sim, é irri­tante. Mostra a falta de respeito com que a indús­tria em geral trata o brasi­leiro. Parece que dizem: “Ah, pra esse povo aí qual­quer coisa serve! A gente capri­cha pros outros!”. Não nos respei­tam mais nem quando se trata de produto mais caro!

Pior: isso não se resume a choco­late. Ahn? Acha exagero meu? OK. Aqui vai mais uma: veja as frutas que compra­mos em nossos super­mer­ca­dos, depois observe as frutas que os países desen­vol­vi­dos compram de nós. Ficará confuso, pensará que não são frutas do mesmo país. Sim, há frutas de boa quali­dade por aqui, mas nota-se a dife­rença nas expor­ta­das. (“Para brasi­lei­ros, a quali­dade inferior.”)

Olhe bem para mim. Eu sou o café tomado no Brasil.

Concentre-se. Eu sou bom. Eu sou muito, muito gostoso.
Oooooooouuuuuuuuummmmmmmmmmmmmm…
Café é outra tris­teza! Mas aten­ção: aqui eu falo para o “cafeó­la­tra”, como eu — a pessoa que apre­cia café, não toma só por tomar, por vício; a pessoa que deseja um café forte e encor­pado. Eu simples­mente não encon­tro, no Brasil, mais nenhum café digno de elogio. Há, no máximo, o café razoá­vel.

“Ah, mas o Brasil é o tradi­ci­o­nal produ­tor e expor­ta­dor de café! Nós temos o melhor do planeta!” Realmente! Mas não para consumo interno. Se você nunca foi para país desen­vol­vido, gosta de algum café daqui e me acha agora um exigente chato, sinto dizer que você não sabe o que pensa em rela­ção a café. Você pensa que conhece o verda­deiro bom café. Pode ter tomado um café melhor no passado. Vale aqui o mesmo exem­plo do míope.

Mais uma vez, o desres­peito ao brasi­leiro. Separa-se o melhor grão para envio a outros países. Para nós, pobres brasi­lei­ros, o café COMUM… ou o RUIM… ou o HORRÍVEL.

Todo mundo lá fora conhece a fama do Brasil em rela­ção a café. (Aliás, a fama não passa disso: café, samba, carna­val, fute­bol. Ponto final.) Aprecia-se o grão brasi­leiro como o melhor. E é mesmo: o Brasil produz o melhor café do planeta. Mas boqui­nha de brasi­leiro, em terri­tó­rio verde e amarelo, não prova o café delicioso.

Em outros países, entro em várias cafe­te­rias. É uma paixão. Quando falo que sou do Brasil, muitos dizem: “Oh, um brasi­leiro, alguém que conhece mesmo café! Toma o melhor do mundo!”. Aaaaaah, tá!…

Em Paris, uma pessoa chegou a dizer que tinha inveja (!) de mim, pelo café que eu tomo no meu dia-a-dia. Que fran­cês iludido e desin­for­mado! Ainda tinha conceito inverso: o melhor fica­ria no Brasil, em vez de ser expor­tado. Tadinho do fran­cês!

Em Amsterdã, o simpá­tico aten­dente de uma ines­que­cí­vel cafe­te­ria disse, com orgu­lho, que só usa grão brasi­leiro. E que ia capri­char muito no meu café, para que eu ficasse feliz tomando ali um café como o que eu tomo em minha rotina no Brasil. Eu disse: “Que bom! Finalmente um bom café! Precisei enfren­tar 11 horas de viagem, atra­ves­sar oceano… para tomar coisa boa de verdade!”. Ele se assus­tou, aí eu expli­quei. Aliás… que café!!! Minha nossa! Aquilo não se toma no Brasil, não! Como pode ser grão brasi­leiro?! (Para conhe­cer essa cafe­te­ria, clique aqui e leia um outro post do blog.)

Dos Estados Unidos eu nem falo, porque lá eles compram grão de quali­dade para “estra­gar” depois. Para mim e para os apre­ci­a­do­res de café, o café do jeito que eles tomam é “here­sia”. Um chá. Nada como um café na Europa (em qual­quer país).

Tenho máquina de espresso (com s mesmo) em casa. Mas não consigo o mesmo prazer. Quero AQUELE café da Europa. Aquele café BRASILEIRO! Por que não tenho esse direito?!

Dias atrás, minha mãe comprou, num super­mer­cado daqui de Brasília, um pacote com grão de quali­dade “supe­rior”. Pagou umas 6 vezes mais caro que o pacote normal. Confesso que o café era melhor, mas ainda assim estava longe do café brasi­leiro que se toma na Europa. Não vale gastar dinheiro a mais.

Ah! Os preços! Lá vem explo­ra­ção no Brasil, lá vem imposto demo­níaco! Como se justi­fica o preço de um espresso no Brasil? Em Portugal, por exem­plo, este ano mesmo, o mais caro que paguei por um expresso daque­les foi 1 euro. É comum pagar 80 centa­vos de euro. Em uma ótima cafe­te­ria de um shop­ping luxu­oso de Lisboa, paguei… 65 centa­vos! Isso depois de eles impor­ta­rem o nosso café?! Então como se justi­fi­cam os preços no Brasil??? Vale lembrar: o euro­peu já ganha em euro; não converte moeda. A reali­dade deles é pagar aque­les centa­vos por um café que nós não sonha­mos em tomar no Brasil!

Como sempre, em TODOS os seto­res, os preços no Brasil são um delí­rio injus­ti­fi­cá­vel e incompreensível.

Se você viajar para a Europa… abuse com café e choco­late! Gastará pouco… e terá alta quali­dade na boca.

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(Republicação deste post. Revisto e atualizado.)